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Yakutsk – A cidade mais fria do mundo

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Como se vive na cidade mais fria do mundo? Segue uma reportagem de Shaun Walker para o jornal britânico The Independent que encarou o desafio e sentiu na pele o frio congelante.

 

 

A 5°C negativos o frio pode ser refrescante, aos 35°C negativos a pele exposta ao ar fica dormente e a necrose é um risco, aos 45°C usar óculos é um perigo, as lentes estalam e o metal cola no rosto e na orelha, rasgando pedaços na tentativa de tirá-los. Sei disso, porque acabo de chegar a Yakutsk, onde os nativos me alertaram a não usar óculos ao ar livre.

Yakutsk é uma cidade remota na Sibéria Oriental, com uma população de 200 mil habitantes, sendo famosa por aparecer no jogo de tabuleiro War e por deter a fama de cidade mais fria da Terra.

A região foi inicialmente conquistada pelos russos na década de 30, e era usada como prisão aberta para dissidentes políticos, Lenin e Stalin foram uns desses prisioneiros.

A região é rica em ouro e diamantes, razão pela qual os soviéticos decidiram transformar Yakutsk num importante centro regional, primeiro com o sistema de trabalho forçado do Gulag, depois colonizando a região com milhares de voluntários em busca de aventura, melhores salários e a chance de construir o socialismo no gelo. A mega-empresa Alrosa é responsável por 20% da oferta mundial de diamantes brutos e tem sua sede na região. Com o tempo Yakutsk se transformou em uma cidade de verdade com hotéis, cinemas, universidades, uma ópera e até um jardim zoológico.

Em Janeiro, a temperatura média fica em torno dos 40°C negativos, a névoa que cobre a cidade restringe a visibilidade a dez metros. Descobri, que temperatura como essas são descritas como ‘frio’, e não como ‘muito frio’. As pessoas que aguardam o ônibus não aparentam estar com frio. Sendo assim, antes de me aventurar pelas ruas da cidade, me vesti com uma mala de roupas, eis o que estou vestindo: um par de meias de algodão com um par de meias térmicas por cima, um par de botas feitas com pele de animais, ceroulas térmicas, uma calça jeans, uma camisa térmica, uma camisa de mangas compridas, um suéter justo de caxemira, um abrigo desportivo, um casaco acolchoado de inverno com capuz, um par de luvas finas, um par de luvas de lã, um cachecol de lã e um boné também revestido de lã.

Saio do hotel e acredito estar pronto para encarar o frio… a pequena fresta do meu rosto que está exposta registra a temperatura baixa, mas no geral a sensação é boa, desde que você esteja vestido corretamente, porém poucos minutos depois o clima gélido começa a se impor. A pele exposta ao ar começa a dar pontadas e depois fica adormecida, o que é aparentemente perigoso, porque significa que o fluxo sanguíneo para o local parou, então o frio penetra pela dupla camada de luvas e congela meus dedos, o boné e o capuz não são suficientes para conter o frio de – 43°C, assim as orelhas começam a pingar e as pernas ficam bambas.

Me vejo com dores pelo corpo inteiro e tenho que voltar rapidamente para um local fechado. Olho para o relógio e percebo que fiquei 13 minutos ao ar livre.

Em Yakutsk a maioria dos carros são importados do Japão, pois aparentemente os mesmos são mais resistentes ao frio do que os veículos tradicionais russos. Ainda assim os moradores costumam deixar o motor trabalhando quando fazem uma parada de apenas meia hora, e outras pessoas deixam o motor trabalhando o dia inteiro enquanto estão no trabalho, para que se tenha uma temperatura minimamente tolerável na volta pra casa.

Apesar dos nativos manterem seus afazeres e as crianças brincarem na neve da praça central, percebo que preciso de um taxi para continuar minha exploração pela cidade. Vou ao mercado, cheio de gente vendendo peixe, porcos e coração de cavalo, tudo congelado. “É claro que faz frio, mas você se acostuma. Os seres humanos se acostumam com qualquer coisa”, diz a yakut Nina, que passa 8 horas por dia em pé na sua banca de peixes. O nível de resistência daquele povo é algo difícil de compreender.

Os operários continuam trabalhando na construção civil até os – 50°C (com temperaturas mais baixas o metal torna-se quebradiço) e as aulas só são suspensas quando o termômetro cai abaixo de 55°C negativos.

Quase sem exceção, as mulheres se vestem da cabeça aos pés com peles de animais, muitas delas produzidas ali mesmo. Naquele clima a ética pouco importa.
Uma moradora que veste um casaco de pele de coelho e um encantador chapéu de raposa ártica, disse: “ Vi na televisão que na Europa existem lunáticos que dizem que não é legal usar peles porque eles amam os animais. Deveriam vir para cá, para ver se ainda se preocupavam tanto com os animais. Aqui você tem mesmo que vestir peles se quiser sobreviver.”

 

Yakutsk 2

 

Yakutsk 3

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